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Web Radio Sinfonia Jovem

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Banda de Música, Banda Sinfônica ou Orquestra de Sopros?

Por Arley França



   Apesar de serem muito parecidas e basicamente compostas por instrumentos de sopro e percussão, as Bandas de Música, Bandas Sinfônicas e Orquestras de Sopros apresentam características bem particulares  que as diferenciam uma das outras. Contudo, estas nomenclaturas são muitas vezes utilizadas de forma equivocada no Brasil, principalmente quando se trata dos termos Banda Sinfônica e Orquestra de Sopros.

   O termo Banda de Música, de modo geral, refere-se a uma corporação musical formada por instrumentos de sopro da família das madeiras, dos metais e também por instrumentos de percussão. Considerando as questões históricas e culturais brasileiras, espera-se que minimamente as Bandas de Música possuam instrumentos musicais como clarinetas, saxofones contraltos, saxofones tenores, sax-horns Mib ou trompa, trompetes, trombones, bombardinos, tubas e percussão. Tal instrumentação permite que o grupo possa executar qualquer arranjo ou música original para banda, mesmo que seja necessário fazer alguma adaptação para compensar a falta de determinado instrumento.
   
    Dadas as condições de manutenção ou até mesmo por questões de tradição, algumas bandas de música pelo interior do Brasil ainda funcionam sem sax-horn Mib ou trompa. Há ainda casos em que se acrescentam à instrumentação acima citada instrumentos como  a flauta, o saxofone barítono e a bateria. Contudo, ainda assim, pode-se dizer que – a julgar por sua instrumentação – esses grupos são Bandas de Música.

  Outra característica importante das Bandas de Música é o repertorio executado. Neste sentido, a  marcha tem sido um gênero musical obrigatório nas bandas de música ao redor do mundo, isso porque as bandas tem papel relevante nas corporações militares. No Brasil, além das marchas, os dobrados e canções militares  reforçam a importância das bandas dentro das casernas. Gêneros como o maxixe, o choro, a marchinha, a marcha-rancho e o frevo também se desenvolveram e  encontraram o seu lugar no repertório das bandas de música brasileiras. Assim como as bandas do passado tocavam os “sucessos da época”, é possível ouvir nas bandas de hoje arranjos de músicas populares que estão em evidência, tanto no Brasil, quanto no contexto internacional.

   Saindo um pouco da realidade das bandas de música brasileiras, venho me reportar agora aos conceitos universais de Banda Sinfônica e Orquestra de Sopros que, conforme mencionado, eventualmente são utilizados de forma errônea no Brasil.

   O conceito de Banda Sinfônica é oriundo dos Estados Unidos e remete ao maior agrupamento musical relacionado às bandas de música, tanto em quantitativo de executantes quanto na variação instrumental. A Banda Sinfônica possui de 60 a 90 integrantes, podendo em alguns casos atuar com 100 ou mais executantes. Além disso, a Banda Sinfônica possui quase todos os instrumentos de sopro existentes. Instrumentos como clarineta alto, corne-inglês, oboé e fagote também são usados na Banda Sinfônica. Em muitos casos,  instrumentos de cordas friccionadas como violoncelo e contrabaixo são incluídos na configuração da verdadeira Banda Sinfônica. O repertório da Banda Sinfônica inclui transcrições de música erudita, bem como música original para banda, com ênfase para peças de grande dificuldade técnica. Algumas bandas, como a Banda Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, possuem ainda instrumentos dificilmente encontrados, como é o caso do contrafagote.

   Dentre os grupos que mais se assemelham ao conceito de Banda Sinfônica no Brasil, além da Banda Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais, pode-se citar a Banda Sinfônica do Exército Brasileiro que em 2017 apresentou-se com  66 instrumentistas,  sendo: 1  flautim, 5 flautas, 1 oboé, 1 corne-inglês, 1 clarineta Mib, 9 clarinetas Sib, 1 clarineta contralto Mib, 1 clarineta baixo Sib, 1 fagote, 2 saxofones contraltos, 3 saxofones tenores, 1 saxofone barítono, 5 trompetes, 4 trompas, 5 trombones, 3 bombardinos, 2 tubas, 8 violoncelos, 4 contrabaixos acústicos, 1 piano, 1 harpa, 6 percussões (incluindo tímpanos, bombo e pratos sinfônicos, e instrumentos de teclado como metalofone e xilofone).

  Em 1952 o regente norte-americano Frederick Fennell - influenciador da pedagogia das bandas nos Estados Unidos - criou a Eastman Wind Ensemble, propondo o conceito de Conjunto de Sopros (Wind Emsemble) que mais tarde originaria a Orquestra de Sopros moderna. Originalmente o Conjunto de Sopros proposto por Fennell possuía em torno de 45 a 55 integrantes, incluindo contrabaixo acústico, harpa e piano.

   Diferentemente da Banda Sinfônica, o Conjunto de Sopros de Fennell não possuía violoncelos e tinha apenas um contrabaixo acústico. Praticamente era o conjunto de sopros da Orquestra Sinfônica acrescido do Quarteto de Saxofones, bombardino, contrabaixo acústico, percussão, piano, órgão e harpa. Com uma sonoridade menos potente que a da Banda Sinfônica, a ideia era que o grupo pudesse tocar instrumentações flexíveis, tanto música de câmara quanto repertório escrito para instrumentação menor por compositores da época. Outra característica era a presença de um executante por parte.

   Por ocasião de sua criação, o conjunto de sopros de Fennell era composto por por 2 flautas, 1 flautim, 2 obés, 1 corne-inglês, 2 fagotes, 1 contrafagote, 1 clarineta Mib, 8 clarinetas Sib, 1 clarineta alto, 1 clarineta baixo, 2 saxofones contraltos, 1 saxofone tenor, 1 saxofone barítono, 3 cornets, 5 trompetes, 4 trompas, 3 trombones, 2 bombardinos, 4 tubas, 1 contrabaixo acústico, harpa, piano, percussão e órgão.

  Considerada uma Orquestra de Sopros moderna, a Eastman Wind Ensemble criada por Fennell apresenta-se atualmente com 1 flautim, 4 flautas, 3 oboés, 1 corne-inglês, 1 clarineta Mib, 8 clarinetas Sib, 3 clarinetas baixo Sib, 2 fagotes, 1 contrafagote, 2 saxofones contraltos, 2 saxofones tenores, 1 saxofone barítono, 6 trompetes, 4 trompas, 4 trombones, 2 bombardinos, 3 tubas, 1 contrabaixo acústico, 1 piano e 6 percussões.

  Mesmo que não possuam exatamente a mesma instrumentação proposta por Fennell,  as Orquestras de Sopros da atualidade diferem-se das bandas de música por possuir flauta, oboé, fagote, trompa, clarineta baixo, percussão sinfônica e, eventualmente, contrabaixo acústico (muitas vezes inexistentes nas orquestras de sopros modernas, sendo sua parte executada pela tuba, fagote e clarineta baixo, sem causar prejuízo ao grupo).

   Conhecer os aspectos históricos e culturais que contribuíram para a evolução das Bandas de Música no Brasil e no mundo e saber diferenciar uma Banda de Música de uma Banda Sinfônica, ou de uma Orquestra de Sopros, é indispensável ao trabalho do regente de bandas brasileiro, principalmente num país onde as Bandas de Música ainda são as principais escolas formadoras de instrumentistas de sopro.

França, Arley. Bandas de Música e Políticas Públicas: um estudo sobre práticas educativas nas bandas do Ceará. 2017. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Música, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, João Pessoa, 2017.

Fonte: https://www.arleyfranca.com/single-post/2018/10/16/Banda-de-M%C3%BAsica-Banda-Sinf%C3%B4nica-ou-Orquestra-de-Sopros

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